Quem vai e quem fica é a diferença entre a saudade e a falta. A saudade é a vontade de ter de volta algo bom. A falta não está necessariamente associada ao valor daquilo que não está mais. A falta é um buraco, que pode ser preenchido por outro alguém. Mas aquele alguém de quem se sente saudade não pode ser substituído.
A falta é a primeira que aparece pra quem fica. É a ausência imediata, um espaço vazio. A falta pode dar lugar à saudade. Mas a saudade não se torna falta. Pra quem vai quase não há espaço, é sempre preenchido pelo novo. Pra quem vai a saudade aparece já no início. A vontade desesperada de voltar. O problema é que a saudade aumenta com o tempo e a falta diminui.
Quem sai de um lugar bom quer sempre voltar. Mas com o tempo esse lugar já não precisa de quem vai. Porque foi. E a saudade já não pode dar lugar à velha realidade, não pode voltar a ser o que era antes. Até porque quem foi mudou.
A realidade, assim como a identidade, é algo mutável, em constante evolução. O que sobra de verdade, para quem vai e para quem fica são as memórias. A saudade é a angústia que paira sobre as boas lembranças e não é, ao fim, algo ruim. Só doloroso.
A vida é uma coleção de memórias. Eu quero memórias das quais eu sinta saudades.